Panorama de análises oficiais de monitoramento da qualidade do leite beneficiado no Brasil

Abstract

O leite compõe uma parte importante dos alimentos mais consumidos e comercializados no mundo. A qualidade e a segurança da matriz alimentícia têm recebido cada vez mais atenção da população, especialmente acerca da presença de perigos microbiológicos e químicos. No que se refere a perigos químicos, há grande preocupação com os medicamentos veterinários que são utilizados no manejo do gado leiteiro, os quais podem deixar resíduos no leite, cujo consumo não intencional pode causar efeitos adversos e determinar a seleção de bactérias resistentes. Objetivou-se com este estudo analisar a qualidade do leite beneficiado comercializado no Brasil, incluindo o pasteurizado, o UHT e o leite em pó, totalizando 1556 amostras monitoradas pelo Programa Oficial do Centro Integrado de Monitoramento da Qualidade de Alimentos (CQUALI-Leite), durante os anos de 2013 e 2014, como subsídio para melhoria e aperfeiçoamento deste programa, direcionando ações corretivas para melhoria de produtos com foco em regiões de maior problemática. Em complementação, foi avaliada a ocorrência de resíduos de medicamentos veterinários no leite beneficiado de 961 amostras, durante os anos de 2009 a 2011, para os principais β-lactâmicos, tetraciclinas, anfenicol, aminoglicosídeos, quinolonas, sulfonamidas e avermectinas, monitoradas pelo Programa Oficial de Análise de Resíduos de Medicamentos Veterinários em Alimentos de Origem Animal (Pamvet). Em 37% das amostras foram obtidos resultados insatisfatórios no CQUALI-leite, sendo observado o leite pasteurizado como a categoria com maior índice de irregularidades e o leite em pó a categoria de melhor qualidade, apesar de evidenciar a presença de Bacillus cereus. Os estados da região Nordeste e Norte do Brasil foram aqueles que possuíram maiores números de irregularidades em laudos oficiais de monitoramento. Os resíduos de medicamentos veterinários não excederam os limites máximos, embora exista uso considerável de antimicrobianos criticamente/altamente importantes e avermectinas em vacas leiteiras, especialmente quinolonas e tetraciclinas. Doxiciclina (1,9%) e abamectina (1,6%) foram detectadas, embora não se destinem ao uso em animais produtores de leite para consumo humano. Não foram confirmados resíduos de estreptomicina, cloranfenicol e β-lactâmicos. Assim, conclui-se que toda cadeia de processamento do leite no Brasil ainda necessita de aprimoramento e monitoramento contínuos e que para aperfeiçoamento do CQUALI-Leite infere-se que o direcionamento de ações corretivas para melhoria de produtos deverá ter foco nas regiões Norte e Nordeste, principalmente quanto ao leite pasteurizado. Foram obtidos baixos níveis de resíduos de medicamentos veterinários no leite, de forma que o risco toxicológico relativo ao seu consumo não deve ser considerado problema de saúde coletiva. Contudo, é importante ressaltar a natureza das amostras, que correspondem ao leite como matéria prima de diversas fazendas e o efeito de diluição pode ter ocorrido. A detecção de certos antimicrobianos e avermectinas pode estar associada ao uso “extra-label” ou ao desrespeito dos períodos de carência, sugerindo que Boas Práticas Veterinárias não estejam sendo seguidas, visto que resíduos de fármacos não autorizados foram detectados.